Meu nome é Samara Afeltro, moro em Vancouver desde 2016. Meu marido e eu viemos para o Canadá com o objetivo de ter um ano sabático, a intenção era estudar, nos qualificarmos e voltarmos ao Brasil em posições melhores na carreira. A ideia de vir foi do meu marido, ele demorou uns três anos para me convencer a vir. Eu trabalhava em RH há 12 anos, estava no auge da minha carreira, tinha acabado de ser promovida à posição que eu tanto sonhava e tive que pedir demissão para acompanhar meu marido. Confesso que vim meio contra a minha vontade.
Chegando aqui, fui estudar inglês enquanto meu marido fazia um college. Me matriculei num curso de 7 meses de inglês. Quando estava no quarto mês do curso resolvemos que eu faria um college também, então me matriculei num curso de RH da BCIT. Por uns três meses, eu estudava inglês das 8am às 4pm e depois ia para o college das 5pm até as 10:30pm. Era super desgastante e cansativo e muitas vezes eu me perguntava o que eu estava fazendo com a minha vida.
Depois que terminei o curso de inglês, fui trabalhar numa loja de departamentos como Sales Sssociate. Eu estudava em período integral e trabalhava meio período. Meu marido estudava meio período e trabalhava meio período. A gente quase não se via nessa época. A vida era bem cansativa e não tínhamos amigos. Começamos a pensar em voltar para o Brasil e voltar para nossas carreiras.
No break de inverno da BCIT fomos passar uma temporada no Brasil. Revimos a família, amigos, matamos a saudade da comida brasileira e meu marido começou a procurar emprego. A intenção dele era ficar no Brasil enquanto eu voltaria para o Canadá para terminar o college e depois voltaria para o Brasil. Ele fez várias entrevistas durante o mês que ficamos por lá, mas não recebeu nenhuma proposta. Então, ambos voltamos para o Canadá. Ele voltou bem à contra gosto.
Foi então que ele conseguiu um emprego na área dele e eu consegui um emprego de meio período em escritório. A posição era bem longe do cargo e carreira que eu tinha no Brasil, mas eu já estava mais satisfeita com a situação, pois eu gostava muito da empresa para qual eu estava trabalhando. Eu trabalhava meio período e havia um planejamento da vaga se tornar período integral bem no período em que eu precisaria de uma oferta full-time para poder extender o visto de trabalho do meu marido. Nesse meio tempo encontramos um grupo bem bacana de brasileiros na igreja em que frequentamos e fizemos amigos de verdade que nos ajudaram a sentir que tínhamos uma família no Canadá e a querer ficar por aqui.
Quando eu estava prestes a me formar, período em que eu precisaria da oferta full-time, a empresa para qual eu trabalhava teve um corte de funcionários, eles me mantiveram no cargo, mas disseram que não poderiam me dar uma vaga de período integral naquele ano. Fiquei decepcionadíssima, eu realmente gostava da empresa e do cargo que eu exercia, mas sem uma oferta full-time eu não poderia externder o visto de trabalho do meu marido, então eu teria que começar a procurar uma outra posição.
Um dia depois que recebi essa notícia, meu celular tocou, era uma colega de sala que havia feito um termo comigo na BCIT, ela não era brasileira. Ela me perguntou se eu estava procurando uma vaga de período integral em RH, pois ela sabia da minha experiência no Brasil. Eu levei um susto, já que eu não havia contado à ninguém que precisaria de uma vaga full-time, prefenciamelmente no meu NOC. E claro, eu disse que estava à procura sim. Ela então, chamou o gestor da vaga para fazer uma entrevista ao telefone. E eu fiz a entrevisa, assim, sem me preparar, sem saber detalhes sobre a empresa, sem preparo algum. O gestor gostou da conversa e marcou uma entrevista presencial para o dia seguinte. Participei da entrevista e me apaixonei pela empresa, pela filosofia e visão dos donos da empresa, e na semana seguinte eu já estava contratada.
Quinze dias depois que eu entrei na empresa, pedi para fazer uma apresentação aos gestores sobre o que eu havia visto de bom e o que eu achava que poderia melhorar na empresa. Propus então, uma reestruturação no RH. Eles adoraram a idéia e em duas semanas iniciamos o processo de reestruturação.
Eu estava muito feliz profissionalmente. Era um o melhor momento da minha vida profissional no Canadá. Eu estava trabalhando na empresa há apenas 3 meses e descobri algo que era muito bom, mas não estava nos planos para aquele momento, eu estava grávida!
Eu não tinha coragem de contar para os meus gestores, afinal eu tinha acabado de passar no período de experiência! Mas uma hora eu teria que contar! Foi então que tive um deslocamento do saco gestacional e tive que ficar de repouso, então tive que contar na empresa. Eles me surpreenderam com a reação deles! Foram super gentis e compreensivos! Eu me ofereci para trabalhar de casa durante o período do repouso e eles aceitaram.
Quando o risco de aborto passou, voltei a trabalhar no escritório e a dar o melhor de mim. Eu realmente estava apaixonada pela empresa e pelo o que eu estava fazendo. E na revisão anual de performance, a empresa novamente me surpreendeu. Mesmo eu grávida, prestes a me afastar por um ano, fui promovida de cargo!
Enquanto eu fazia seleção eu sempre divulgava as oportunidades nos grupos de brasileiros que eu fazia parte. Afinal, a gente sabe o quanto o nosso povo é profissional, esforçado e dedicado e muitas vezes é preciso apenas uma oportunidade para mostrar isso. Com isso, muitos brasileiros começaram a entrar na empresa e os gestores sempre elogiam a qualidade e profissionalismo do nosso povo. Eu fui a primeira brasileira a entrar na empresa, era a única brasileira no RH, e hoje entre 7 profissionais no RH, 5 são brasileiros! E todos conseguiram seus cargos por mérito próprio, eu apenas divulguei as vagas para que pudessem se candidatar. Eu também fui a primeira pessoa à aplicar para o BCPNP pela empresa, e isso abriu portas para muitos outros imigrantes, principalmente para os brasileiros.
Depois de um ano de licença maternidade, eu voltei ao trabalho e hoje atuo como HR generalist, apoiando o time executivo nas decisões estratégicas. Eu realmente amo o que faço e me identifico com a empresa para qual eu trabalho. Houve um tempo que eu achei que jamais conseguiria estar satisfeita profissionalemente no Canadá, mas eu estava totalmente enganada.
Dessa história, eu tiro algumas lições que me ajudaram e que talvez possa ajudar a você também:
· Sempre se dedicar e entregar o seu melhor e contar a sua história: A vida é uma vitrine. Se eu tivesse sido uma colega de grupo preguiçosa, e não tivesse colaborado nos trabalhos em grupo do college, ou se eu não tivesse contado a minha trajetória profissional para minha colega de sala, eu jamais teria recebido a ligação que transformou minha vida profissional no Canadá.
· Não ter medo de sugerir melhorias: Eu tinha apenas 15 dias de empresa, mas sabia que as coisas poderiam ser melhores, então sem medo eu preparei uma apresentação com uma proposta de reestruturação que mudou a forma da empresa operar.
· Não relaxar nunca: Mesmo grávida eu continuei dando o meu melhor para empresa. Trabalhei até o ultimo minuto com os mesmo empenho e com a intenção de realmente ajudar a empresa a atingir bons resultados.
· Ajude sempre que puder: Sempre que tiver oportunidade de ajudar alguém, faça. Se puder divulgar vagas, dar um eedback, compartilhar algo, ou apoiar alguém, faça. Não estamos sozinhos nesse mundo! Se puder colaborar ao invés de competir, colabore!
Como profissional de RH, me coloco a disposição para ajudar quem estiver chegando e quiser dicas sobre o mercado de trabalho canadense. Contem comigo!