Bem-vindas a nossa semana corporativa aqui no Blog. Chegou a hora de conversarmos com as membras da nossa comunidade que construíram ou estão construindo suas carreiras no Canadá.
Prontas? Vamos lá!
Minha História
Graduada em Direto pela Universidade Federal de Uberlândia/MG, especialista em Direito Público pela Faculdade Anhanguera e Direito e Processo do Trabalho pela PUC Minas. Empregada pública há 13 anos no Brasil, atualmente trabalho na UBC – University of British Columbia, na posição de Assistente Administrativo (Administrative Assistant) da Faculdade de Ciências.
Considero que minha trajetória profissional em Vancouver seja muito recente e por isso me sinto honrada pelo convite recebido para escrever aqui para vocês. Espero que possa encorajá-las.
Minha história começou quando meu marido recebeu uma proposta de emprego para vir para Vancouver. Em 12/06/2018 (exatos 2 anos atrás) nos despedimos no Brasil e eu, empregada pública da CAIXA, decidi pedir uma licença sem remuneração no trabalho para poder vir também.
Desde então a maior preocupação bateu à porta: meu diploma e minhas especializações não valem nada lá no Canadá, e agora? Vou trabalhar com o quê? De quê? – pensamento perturbador: mas eu só seu fazer isso! (grande engano: podemos fazer tudo que nos propusermos a fazer. Levante a cabeça e faça).
Pedi a licença e minha chefe (coordenadora jurídica de toda uma equipe do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba) a concedeu. Licença autorizada para começar em Janeiro de 2019. Sim! De Junho a Janeiro na expectativa e sem perspectiva de emprego. Vim em Fevereiro de 2019. Comecei a trabalhar como assistente na UBC em Março de 2019. Efetivada em Julho de 2019.
Mas voltando na história... Eu já tinha um inglês mais ou menos (TOEFL e CAE - intermediário), mas sem estudar nada desde 2014. Decidi encontrar uma escola de inglês no Brasil focada em melhorar a conversação e pedi umas aulas avulsas de “entrevista de emprego” para me expressar melhor e conseguir trabalhar, em qualquer emprego, quando chegasse aqui. Esse era o grande desafio, e ainda é. Pois não há tecnicalidades na área jurídica que possam ser demonstradas a não ser que você se expresse muito bem, escreva bem, tenha perfil para negociação, seja coerente, eloquente, educada, formal etc. E eu não atuo na área jurídica ainda, mas hoje acredito que seja uma questão de tempo e planejamento.
Ainda no Brasil percebi que não conseguia falar claramente o que queria nem ao telefone e isso me desanimou de ir para um escritório ou de trabalhar com o público. Percebo hoje que o desafio na época era muito mais sobre ter coragem para falar de mim mesma como profissional, caso conseguisse ir para uma entrevista. Eu não tinha confiança no meu potencial e também não tinha nenhuma experiência canadense.
Então para mim, recomeçar em qualquer emprego, em qualquer área, já seria suficiente. E não há nenhum mal nisso. É que eu pensava que: “só sabia fazer isso”. Lembra? Precisei desconstruir essa ideia de mim mesma. E já fica aqui essa dica para você também. Lembre-se da sua versatilidade, da sua capacidade de aprendizado e de tudo que você sabe fazer bem, muito além da sua formação acadêmica.
Eu não era (e não sou) só bancária, advogada, empregada pública. Mas eu não sabia disso ainda. Organizei o currículo, Linked In, Indeed, e pedi ajuda e a opinião de alguns bons amigos que encontrei por aqui. Ouvi diversos conselhos e apliquei a maioria:
1. Reduzi meu currículo para 1 só página (retirei muita coisa) e mudei para o estilo canadense, fiz uma “cover letter” padrão e me comprometi a adaptá-la para cada vaga na medida das palavras-chave do perfil desejado. Coloquei uma meta mínima diária de encontrar pelo menos 6 vagas coerentes com o meu perfil e me candidatar. Preencher o cadastro no site da empresa já estava valendo. Vários nãos vieram por email;
2. Guardei as palavras de incentivo recebidas nesse processo: você tem experiência profissional, é inteligente e tem potencial para aprender qualquer coisa em uma nova vaga;
3. Treinei para me posicionar quanto à vaga almejada, quando aparecesse. Eu não tinha nada a perder então deveria conseguir entrevistas ainda que fossem para me “treinar” nesse processo;
Fiz umas duas entrevistas por telefone, uma online e achei que fui muito mal. Fui chamada para algumas entrevistas pessoalmente e nada. Até que em uma delas a entrevistadora me disse que eu era “overqualified for the job” (muito qualificada para o trabalho), que meu inglês era muito bom e me dispensou – era para ser Caixa no Chipotle. Voltei para casa toda arrumada debaixo de chuva sem saber se estava triste ou feliz.
No dia seguinte ergui a cabeça e continuei a busca, agora uma busca mais refinada e com mais confiança. Na mesma semana em que havia me candidatado ao processo seletivo para uma vaga temporária na UBC, via Hiring Solutions, achei uma vaga na Swissport para atendimento ao cliente no aeroporto, passagens, embarque e desembarque. A preferência era para quem fosse fluente em 2 idiomas ou mais, preferencialmente Mandarim/Chinês. Fui selecionada e na entrevista pessoal eu era a única candidata não asiática e me surpreendi por terem me escolhido. No feedback ouvi: você é boa com pessoas, proativa e está disposta a aprender. Vamos te contratar porque você fala português e tem um espanhol intermediário. (pensei comigo mesma: Uau! Que vitória!)
Recebi um curso para terminar em uma semana e terminei em 2 dias. Mandei um email informando e recebi a “offer letter” para começar em 2 semanas. Aceitei!
Na mesma semana recebi um email da UBC para uma entrevista online e um teste de digitação, redação, matemática e conhecimentos gerais do M. Office. Fiz e não dei muita confiança no começo. Porque eu não me via nesse perfil administrativo acadêmico.
Mas quando recebi o feedback, e a proposta da Swissport, a confiança no meu potencial cresceu e eu mandei um email para a área de recrutamento da UBC, com a cara e a coragem, perguntando se haveria uma entrevista “in person”, porque eu estaria disponível para tal. Fui e saí de lá com a proposta de trabalho para começar em uma semana.
Acredito que esse email foi o tiro no escuro que eu precisava dar, ou talvez o que faltava para que colocassem o meu currículo em observação por lá. Nunca saberei! Mas conto aqui, para vocês, que foi a melhor escolha para mim naquele momento. Voltei ao escritório da Swissport, agradeci, me desculpei e devolvi a proposta. Saí de lá satisfeita com a escolha feita.
Da função temporária fui efetivada na UBC após 4 meses e ainda estou no mesmo setor (do primeiro “assignment”), como assistente da reitora (“Dean”) da Faculdade de Ciências. Aprendi e ainda tenho muito a aprender por lá e sou grata pela oportunidade de começar uma carreira por aqui.
Mas confesso que agora, após 1 ano na função, pretendo voas um pouco mais altos em um futuro breve. Hoje procuro ativamente por uma nova oportunidade como “legal assistant”, de preferência com melhor remuneração e benefícios. Pretendo voltar a estudar, validar o meu diploma junto à NCA (National Committee on Accreditation) e atuar aqui em Vancouver. Um passo de cada vez...
INSIGHTS E DICAS:
Dos conselhos que recebi e apliquei:
- Currículo de 1 só página para começar. Adapte-se ao estilo canadense de apresentação e seja sucinta.
- “Cover Letter” para todas as vagas, ainda que tenha a opção de “upload” só para o currículo. Coloque tudo em 1 arquivo pdf e mande. Seja clara quanto aos motivos pelos quais a vaga de interessa e aproveite para reafirmar as suas qualidades como profissional.
- Treine o seu discurso e as potenciais respostas de entrevista para si mesma. Repita mentalmente quando for para a entrevista.
Dos meus conselhos pessoais:
- Se a posição for “entry level” retire as especializações. Mas fale sobre elas na cover letter e na entrevista se tiver oportunidade.
- Ressalte todas as suas qualidades como profissional, independentemente da área de atuação.
- Ser estrangeiro e imigrante não te faz inferior profissionalmente ou menos qualificada. Não trate isso como uma fraqueza e sim uma oportunidade de diversidade, como em uma análise SWOT de si mesma. Você pode se mostrar disponível e adaptável ao “jeito canadense” ou ao que a corporação espera que você faça ao desenvolver suas atividades.
- Não se subestime. Você provavelmente tem mais conhecimento, educação formal e experiência do que os seus concorrentes. E eles muito provavelmente não te dirão isso ainda que se tornem seus colegas.
- Seja humilde e se não sabe algo, diga claramente que não sabe ou que não entendeu do que se trata, aprenda e siga em frente.
- Confie em si mesma e lembre-se do caminho percorrido até aqui.
Dos meus conselhos para profissionais da área do Direito:
- Procure por cursos paralelos que possam te ajudar a melhorar a comunicação. Eu fiz um de Business Writing Essentials, duração de 3 meses, que me ajudou muito a ganhar confiança como assistente.
- Tente não comparar a sua carreira no Brasil e as possibilidades de carreira aqui. São cenários muito diferentes e a certificação aqui é a que vale. Não somos como os profissionais de TI, Engenharia, Arquitetura, Design, Marketing, etc.
- Avalie se você pretende continuar na carreira jurídica ou se pode/quer usar as suas habilidades para uma nova carreira que te fará mais feliz e realizada. O processo para validação do diploma é longo. Mas eu acredito que valerá a pena para mim (um dia). Espero que para você também.
* Esse texto foi escrito em primeira pessoa porque o conteúdo reflete o meu ponto de vista pessoal e a minha experiência profissional. As dicas são baseadas apenas na minha percepção e não têm comprovação de eficácia.